“Nito de Noku”, orgulho de Achada Santo António.
Escrito em Maio de 2020
Eu era criança, e em casa ouvia Tchim falar de Nito de Noku Tabari, gostava de exaltar a valentia da raça Tavares, e também ouvia falar do Noku que era também valente e jogava nos Travadores, por tudo isso Nito tinha que ser um bom atleta.
Nos anos oitenta havia um polivalente anexo ao estádio da Várzea, e ali realizavam alguns combates de boxe.
Eu nunca tinha visto um combate. Tchim Tabari era quem comentava os combates que o Nito fazia. Sei que nos combates ela levantava e dava socos no ar e batia nas pessoas que estavam entre o público. Tchim Tabari tinha orgulho do Nito! E Nito muito cedo, partiu para a emigração. Sempre que vinha de férias ia visitar Tchim Tabari e tomava bênção. Gostava de o ver sempre de roupa branca.” conta o amigo Paulo Furtado Brito.
Tavares Carlos Alberto veio ao mundo no dia 17 de Janeiro de 1962 no bairro de Brasil, filho de Domingos Tavares (Nocu ex jogador dos Travadores) e de Josefa Tavares (Xepa).
Cedo interessou-se pelo desporto e foi nas mãos de Djikuto que começou a praticar Karaté com 16 anos, ainda no liceu, participou numa competição de boxe entre alunos da qual saiu campeão de cinturão azul. O torneio teve um grande significado para ele, e desde então, nunca mais largou a modalidade. Nito era um desportista nato que para além do karaté e boxe ainda sobrava tempo para mostrar as suas habilidades como jogador de futebol, jogou como avançado nos clubes dos Travadores e Boavista da Praia.
O jovem atleta apesar do seu corpo franzino, era incansável, ágil e destemido, e graças ao seu talento caiu no agrado do Mascarenhas ex Director da EMPA, que lhe arranjou trabalho como mecânico na antiga Empresa Pública de Abastecimento. Com o passar do tempo, o boxe começou a ganhar mais espaço na sua vida, e logo dedicou-se inteiramente à modalidade. Foi com ajuda dos treinadores Marta e Djuda (ex jogador da seleção nacional), que passou a competir com mais seriedade tanto na Praia como em Mindelo. Nito ganhava todos os combates.
“Me lembro bem quando enfrentei e venci Orlando, um dos melhores pugilistas de São Vicente.” – Diz Nito.
Nito sonhava com o pódio, queria mostrar seu talento além-fronteiras, e apesar das dificuldades nunca desistiu, treinava todos os dias, e no boxe aprendeu a disciplina e o respeito. Não demorou muito, o seu talento foi reconhecido, e em 1982 foi escolhido juntamente com mais seis pugilistas para representarem Cabo Verde nos jogos de Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) em Portugal. Em 1985, chegou no país o Cubano Francisco, que lhe ajudou a aperfeiçoar a sua técnica e rapidez. Meses depois, Joaquim Ribeiro presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol e Boxe na altura, o aconselhou a emigrar para que pudesse ter melhores oportunidades na carreira, assim fez, e seguiu para França, onde trabalhou nas obras e como mecânico.
No mesmo ano, foi seleccionado para representar o seu país no torneio da Zona II, que aconteceu na cidade da Praia, no Gimno Desportivo Vavá Duarte. Nito chegou à final, e enfrentou o representante do Senegal. O pavilhão estava cheio, e o público estava imparável torcendo pela vitória do amigo, vizinho e conterrâneo. O combate teve três rounds, Nito ganhou e entrou na história do boxe nacional, tornando-se no primeiro Cabo-verdiano a conseguir uma medalha de ouro na modalidade de boxe na Zona II.
A partir daí o campeão não parou, e na França, com o apoio dos seus amigos Eduardo, Figueira e Pierre conseguiu autorização para lutar e representou os dois países (Cabo Verde e França) pela Europa. No fim da carreira formou-se como treinador numa escola de boxe em Paris.
Nito di Noku ou homem de branco, versátil, elegante, “basofo ”, sempre sorridente, amigo de todos e pai de 19 filhos, gosta de se cuidar, e aos 58 anos mantêm a boa forma física. Hoje passa a maior parte do seu tempo em Cabo Verde.
Meu sonho é abrir uma escola de boxe na Praia para dar oportunidade aos jovens de bairros mais carenciados, promovendo inclusão através do esporte e revelando talentos, afirma Nito.
Lopes Khathy - Maio de 2020